Pacientes do Hospital-Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE/UFPel) em tratamento contra o câncer ficaram sem sessões de quimioterapia durante nove dias. Entre 18 e 26 de janeiro, a instituição cancelou as sessões por estar sem medicamentos. De acordo com o hospital, o atraso aconteceu devido a uma falha logística. Pacientes tiveram o procedimento protelado por até 15 dias. Uma situação parecida viveram aqueles que recebem assistência no Centro de Radioterapia e Oncologia (Ceron) no início da semana passada. No dia 24, cerca de 15 deles protestaram em frente à Santa Casa de Misericórdia por terem o atendimento interrompido por falta de medicamentos.

Mesmo em tratamento, uma professora da rede municipal segue trabalhando. A espera deixa os dias ainda mais angustiantes para ela, que prefere não se identificar. Com 55 anos, a docente luta contra o câncer de ovário desde novembro do ano passado. Com quimioterapias marcadas num intervalo de 21 em 21 dias, a última sessão não pode ser efetivada pela falta de medicamentos no setor oncológico do HE/UFPel. “Eu tinha uma químio marcada para o dia 18 (janeiro) e no dia 17 me ligaram à tardinha para desmarcar”, contou à reportagem.

Durante a tarde da última segunda-feira o setor entrou em contato com a paciente e marcou próxima sessão para estaquarta-feira (01). Em conversa com a médica que acompanha o seu caso, a professora se mostrou preocupada com o quadro clínico. “Minha médica disse que a partir de uma semana começa a prejudicar o tratamento”, disse. Dependendo do caso, poucos dias de atraso de quimioterapias já podem prejudicar o tratamento. Para ela, serão 15 de atraso. O medicamento chega a custar R$ 1.085,00 em farmácias.

A paciente Cíntia Bielemann, 38, está em tratamento contra o câncer de mama desde outubro de 2016. Com oito sessões marcadas no total, ela já realizou seis procedimentos. A última quimioterapia foi realizada dia 27 de janeiro, quando o serviço já estava em funcionamento pleno. “Deu tudo certo, o atendimento pra mim sempre foi rápido”, comentou.

Outra paciente que não quis se identificar foi detectada com câncer de mama aos 27 anos. Em tratamento desde julho de 2016, esta foi a primeira vez que faltou medicamento para a realização do procedimento. A trabalhadora de serviços gerais, hoje com 28 anos, já realizou sete sessões - ao todo serão oito. Afastada temporariamente para tratamento, sua última sessão de quimioterapia estava marcada para o dia 20 de janeiro, cancelada devido à ausência de medicação. O atendimento foi reagendado para esta terça-feira. O problema fez com que remarcasse a consulta com o mastologista para fazer exames pré-operatórios. Ela aguarda o fim das sessões para realizar uma cirurgia.

O HE/UFPel já informou que o medicamento já chegou à instituição no dia 26 e a equipe está reagendando os tratamentos de quimioterapia desde a última sexta-feira

Ceron normalizado
Também com os atendimentos de quimioterapia interrompidos dia 24, o Ceron normalizou o atendimento no dia 27. Após rescisão de contrato com a empresa Oncologistas Reunidos de Pelotas (Oncopel), terceirizada que realizava quimioterapias, o centro já atende normalmente, informou Paulo Porto Gonçalves, provedor da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas. Um grupo de pacientes chegou a protestar em frente ao hospital, para cobrar esclarecimentos. O centro alegava que não havia repasses por parte do hospital, mantenedor do Ceron, o que foi negado por Paulo. Uma força-tarefa já trabalha no agendamento de atendimentos atrasados.

Nota do HE/UFPel
“O Hospital-Escola UFPel/Ebserh informa que a falta observada em um medicamento quimioterápico se deu por conta de atraso na entrega de um fornecedor. A droga já estava adquirida por meio de licitação e o empenho já havia sido realizado, no entanto, por conta de dificuldades logísticas, o fornecedor atrasou a entrega em alguns dias. O hospital já havia notificado a empresa fornecedora e a regularização da entrega ocorreu em 26/01. Os pacientes já foram reagendados.”